quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sírio de Andrade - Ponte



Rejo-me pelos sons de passos largos
Rejo-me pelo som das gotas de água
Pelo som dos travões do autocarro
Pela sirene dos bombeiros, da polícia
Pelos pregões da varina, do ardina
Pela buzina do táxi, os passos deles
Dos apressados sem rosto, sem vida
Corrida cega, sem visão periférica!

Rejo-me pelos ruídos do mundo
Rejo-me pelos sons do teto,
Deste lar, tão meu, tão de todos
Desta ponte que todos os dias cruzas
Ignorando que existe alguém vivendo
Apenas assim, só, marginalizado,
Debaixo dos teus apressados pés!

Sírio de Andrade®

In: Antologia Depressiva

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