Soneto de Mal Amar
Invento-te recordo-te
distorço
a tua imagem mal e bem amada sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo meu pântano de rosas afogadas.
Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras mágoa joio e trigo apenas por ternura levedadas.
Ary dos Santos, in
'O Sangue das Palavras'
// Consultar versos e eventuais rimas
Soneto do Mal (A)mar
Invento-me recordo-me e torço
cores criadas a
troco de um nadaapenas roda em que me oleio e forço
naufrago de uma vida mal amada
mastro do desejo erguido no sonho
sorvendo a brisa vazia do teu corpoa palavra obter-te onde a ponho
salva-me de mim ainda não estou morto.
Onde estive e me perdi? não digo:
Privação das tuas
formas meu castigo Desejos e ansias por ti afloradas.
De ti nem fama nem veredito
Arrastado pela praia o meu grito
Promessas pela aventura levedas.
Alberto Cuddel®
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