quarta-feira, 27 de julho de 2016

Homenagem a ÁLVARES DE AZEVEDO NA MINHA TERRA



Amo o vento da noite sussurrante
A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
No rancho dos tropeiros;

E os monótonos sons de uma viola
No tardio verão,
E a estrada que além se desenrola
No véu da escuridão;

A restinga d'areia onde rebenta
O oceano a bramir,
Onde a lua na praia macilenta
Vem pálida luzir;

E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
Do amanhecer na serra,
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra;

E o longo vale de florinhas cheio
E a névoa que desceu,
Como véu de donzela em branco seio,
As estrelas do céu.

Não é mais bela, não, a argêntea praia
Que beija o mar do sul,
Onde eterno perfume a flor desmaia
E o céu é sempre azul;

Onde os serros fantásticos roxeiam
Nas tardes de verão
E os suspiros nos lábios incendeiam
E pulsa o coração!

Sonho da vida que doirou e azula
A fada dos amores,
Onde a mangueira ao vento tremula
Sacode as brancas flores,

E é saudoso viver nessa dormência
Do lânguido sentir,
Nos enganos suaves da existência
Sentindo-se dormir;

Quando o gênio da noite vaporosa
Pela encosta bravia
Na laranjeira em flor toda orvalhosa
De aroma se inebria,

No luar junto à sombra recendente
De um arvoredo em flor,
Que saudades e amor que influi na mente
Da montanha o frescor!

E quando à noite no luar saudoso
Minha pálida amante
Ergue seus olhos úmidos de gozo,
E o lábio palpitante...

Cheia da argêntea luz do firmamento
Orando por seus Deus
Então eu curvo a fronte ao sentimento
Sobre os joelhos seus...

E quando sua voz entre harmonias 
Sufoca-se de amor
E dobra a fronte bela de magias
Como pálida flor

E a alma pura nos seus olhos brilha
Em desmaio véu
Como de um anjo na cheirosa trilha
Respiro o amor do céu

Melhor a viração uma per uma
Vem as folhas tremer
E a floresta saudosa se perfuma 
Da noite no morrer

E eu amo as flores e o doce ar mimoso
Do amanhecer da serra
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu da minha terra

    Homenagem postada por 
          Poeta do Sertão

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, poeta.
(São Paulo - SP, 1831 - 1852), Obras Principais: Obras I (Lira dos Vinte Anos), 1853; Obras II (Pedro Ivo, Macário, A Noite na Taverna, etc), 1855.

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