sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Alberto Cuddel - Escolhi Amar-te XLII



No tempo, encontramo-nos num qualquer vão de escada perdido na memória, num diálogo surdo do silêncio do nosso olhar. Existem dias, existem noites que eu, que tu, como tantos eles, esquecemos que o amor, o ato decisório de amar dura apenas um dia e uma noite, nem mais, nem menos. Quero amar-te também em mim, recorda-me, acorda-me de mim próprio, das distrações egoístas onde tantas vezes me perco de ti. Lembra-me de te amar pelo menos até amanhã.

Quando ridiculamente penso o amor, em como te escrevo e inscrevo no verbo amar, sei que sou, amplamente e conscientemente ridículo, nas cartas que te escrevi, nas cartas que te escrevo, sei que sou e amo verdadeiramente ser ridículo, como ridículos são os que desistem conscientemente de amar. Vejo-me ridículo, mas não tão ridículo como os que fingem acreditar, que o amor nasce de uma paixão, assoberbada pelo efeito físico das dopaminas e endorfinas libertadas, pela paixão…

Escolher amar-te tantas vezes significa um ato egoísta de encontrar em ti partes de mim que eu próprio desconhecia. Amar-te tantas vezes significa doar-me de tal forma intensa que em mim apenas te encontro a ti.

Escolher amar-te é em si uma profunda blasfémia ao amor divino, é amar a Deus pela obra criada, pela perfeição do amor com que te criou, no narcisismo de crer, que Ele criou-te para que apenas eu pudesse escolher Amar.
Alberto Cuddel®

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