segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SEMI-HUMANOS

Era o que se podia chamar de um mundo pós-apocalíptico. Ela olhou para os lados e dera graças por encontrar os seus bens, tudo estava em completa ruína, os que mais amava estavam a salvos, agarrou-se a eles logo que percebeu que a gaiola em que havia sido mantida pelos fantasmas de suas mente estava tombada, amassada e longe dela. Finalmente estava livre! Aguentara firme tudo que via de lá, aos que antes amigos apontavam e dizia: "Saia covarde!"...  Esta baixava a cabeça e com um suspiro voltava a erguer os olhos aos céus na esperança que a ideia de abri-la lhe viesse a mente, visto que os que apontavam em nenhum momento se mostraram dispostos a lhe ajudar a achar a chave.
Os fantasmas montavam guarda dia e noite. 
Agora, depois de tudo, se via ao chão, recolhera aos que amava e os protegeu, estava tudo praticamente destruído, por trás de muros do que antes fora uma casa via as mesmas pessoas que antes apontavam sua gaiola se estapeando mentalmente. Nada restara, muitas fora da gaiola foram transformadas em algo que se podia chamar de "semi-humanos", estes não tinham mais um raciocínio próprio, em suas mentes foram implantadas idéias de que se fossem únicos em suas opiniões e gostos, teriam algum tipo de recompensa, era praticamente incompreensível, não notavam que foram modificados para destruírem uns aos outros. 
Estapeavam-se e se agarravam a restos de teorias de um mundo que sequer existia mais.
Agachou-se por trás do muro, de longe podia ver a  sua ex gaiola amassada. Olhou seu corpo ao verificar se faltava algo, alguns arranhões, dentes quebrados e várias contusões. Olhou mais uma vez aos que amava, estavam sãos e salvos. Em um pequeno aparelho ao seu lado, fragmentado e grande responsável por tamanha destruição, pegou-o rápido como quem rouba, o mesmo tinha poderes de destruir e assim o tinha feito, mas não fazia isso por si, isto era dependente das intenções do manuseador. Para sua sorte, ainda funcionava, e aos queridos que não conseguia ver pelo muro, conseguiu ver pelo pequeno aparelho que estavam bem, uma parte havia se transformado em  "semi-humanos", não ouviam, não era mais os mesmos, falavam de vestes, comidas, esportes, e tantas outras coisas enquanto brigavam por um pedaço de carne ou um analgésico para suas dores. Antes  de voltar a se abrigar ao muro procurou temerosa os fantasmas, aqueles que cercavam sua gaiola, estava livre delas, sobrevivera a uma situação em que conseguia ver muitas pessoas ainda dentro de suas gaiolas... Mortas.
Outros semi-humanos carregam gaiolas em suas cabeças e eram tão isentos de raciocínio que os fantasmas não se davam ao trabalho de assombrar uma mente vazia, ao contrário do que pensavam, fantasmas nunca gostaram de casas vazias, eles precisam de uma boa platéia e a mesma eram as mentes.
Notou que embora estivesse quebrada e estivesse fora da mesma, agora eles habitavam sua mente.
Sugaram seus sonhos.
Protegeu da melhor forma que podia os que amava, levantou-se e passou pelo muro, os "semi-humanos" não podiam vê-la, estavam mais perdidos em suas mentes vazias do que ela com uma legião de fantasmas na mente. Estes pesavam. Mais sobrevivera, e precisava seguir, os que amava e os que ainda não foram acometidos pela mutação ainda estavam lá e lhe era a base de consolo.
Precisa de um antídoto para a própria mente, precisa tornar o velho muro um lar novamente, e quem sabe, os semi-humanos poderiam provar do mesmo antídoto.
J.Mendes


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