XXXVIII
Toca o telefone, o mesmo que ontem tocava, o mesmo que me devolve o calor envolvente da doçura da tua voz, forma-se em mim a imagem de teu corpo, cada curva no torneado das palavras, nos sons, no que não dizemos, no mistério, no que fica por dizer, no código dos nossos gemidos - se o mundo soubesse o quanto sabemos e dizemos, acabaríamos com a felicidade universal.
Toca o telefone, o mesmo que ontem tocava, o mesmo que me devolve o calor envolvente da doçura da tua voz, encostas-te a mim, sussurras-me ao ouvido, como farias se estivesse contigo, e sem estar, estou, estás em mim, mesmo que seja na distância de um cabo telefónico, trocas as palavras por beijos, os sons por abraços, na melodia da voz, fazes-me ferver o sangue no desejo gemido de macho no cio, e mesmo assim atiças-me, murmurando ao ouvido um melodioso Ama-me, agora!
Toca o telefone, o mesmo que ontem tocava, o mesmo que me devolve o calor envolvente da doçura da tua voz, onde substituis as curvas e o arrastar das letras nas longas cartas declamadas que me escreveste e tantas foram elas que hoje somos feitos de letras e palavras que se complementam e se amam, palavras que se desejam, que se envolvem no prazer, palavras que gemem e se apaixonam a cada parágrafo da vida.
Toca o telefone, o mesmo que ontem tocava, o mesmo que me devolve o calor envolvente da doçura da tua voz, vivo e revivo na tua voz, na eloquência das palavras discursadas, como um plano de vida, na motivação absurda que me leva amar-te mesmo distante de ti, seja ele um plano de amor ou uma mera lista de compras, mas ligaste-me, nem que fosse para fazer o jantar.
Toca o telefone, o mesmo que ontem tocava, o mesmo que me devolve o calor envolvente da doçura da tua voz, e nesse tom de voz de menina mulher, com a safadeza no timbre, e antes que eu desligue na pressa dos afazeres diários, jocosamente num ato de gozo individual lanças um Ama-me outra vez… nem que seja por palavras…
Alberto Cuddel ®
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