O Diário dos Escritores entrevista o escritor Marcelo Nocelli.
Diário - Nome, pseudônimo, data de nascimento e cidade natal.
Marcelo - Marcelo Nocelli, nascido em janeiro de 1973, em São Paulo
– SP.
Diário - Como e quando surgiu o interesse pela literatura?
Marcelo - Muito cedo. Desde criança, antes de aprender a ler, minha
mãe já lia pra nós em casa. Acho que isso foi fundamental. Depois os gibis;
turma da Mônica. Ainda antes de aprender a ler, olhava os quadrinhos e
inventava as falas. E assim por diante, livros infantis, coleção
vaga-lume...
Diário - Como encara a era digital, acredita que o livro impresso tem seus dias
contados?
Marcelo - Não sei se o livro impresso está com seus dias contados,
mas a tendência é ir diminuindo. Eu ainda prefiro o livro impresso. E acredito
que os da minha geração também. Os mais jovens, de 1990 pra cá, já cresceram
(nasceram) na era digital, e pra eles é normal. Acredito que, enquanto, hoje
temos livros impressos que também saem em versão digital, num futuro não muito
distante, os livros serão digitais e alguns sairão em versão impressa. Algo
como acontece hoje com o vinil.
Diário - O que acha das editoras que estão supostamente abrindo as portas para os novos
escritores, visionárias ou aproveitadoras da situação econômica brasileira?
Marcelo - Aproveitadora não. Eu sou editor de uma pequena editora.
Acho maravilho isso. Porque a maioria dos autores estreantes não tem muitas
chances nas grandes editoras. São apostas que, quando bem-feitas, são ótimas
(oportunidades) para ambos; autores / editoras. Crescem e aparecem juntos.
Diário - Como vê a educação pública no Brasil?
Marcelo - A educação pública, fora as universidades: estaduais e
federais, é vergonhosa. O ensino básico já foi bem melhor, mas ainda funciona
mais ou menos. Agora, quando entramos no fundamental I e II e ensino médio, aí
a coisa é crítica. Terrível. Vergonhosa mesmo. E me parece que os governos não
estão preocupados com isso e não fazem nada para melhorar, pelo contrário. Além
das péssimas grades de ensino, condições escolares, material didático, metodologias
e todo o sistema, as péssimas condições de trabalho e salário dos professores
também contribui para o desanimo total da nossa educação. Não adianta programas
sociais sem uma boa educação. Vamos continuar formando os patrões nas escolas
particulares, e os empregados, cada vez mais ignorantes, nas públicas...
Diário - Fale um pouco sobre sua caminhada para poder publicar o primeiro livro, quais
as dificuldades e glórias?
Marcelo - Comecei a escrever muito cedo. No meu aniversário de doze
anos ganhei, da minha mãe, uma coleção com 15 livros do Sítio do Pica Pau
Amarelo, do Monteiro Lobato. Como não gostei muito dos finais dos contos,
reescrevi todos a minha maneira. Depois disso, na adolescência comecei a
escrever poemas que dedicava as meninas da classe. Logo em seguida, pequenos
contos. Foi na época em que descobri Rubem Fonseca e fiquei impressionado com
os contos e com o que se podia falar na literatura: tudo. Logo depois veio o
curso técnico de eletrônica e a faculdade de tecnologia. Nessa época só lia.
Lia muito. Então, quando terminei o curso, comecei a trabalhar como técnico numa
gráfica que só fazia livros. Me encantava poder ler os livros enquanto eram
fabricados, antes mesmo de chegarem nas livrarias. Foi quando resolvi arriscar escrever
um romance. Ficou na gaveta durante anos. Em 2004 tive a oportunidade de fazer
um curso na Alemanha, na matriz da empresa onde trabalhava. Fiquei três meses
lá. E durante as noites, no hotel, retomei a escrita deste romance. (Talvez
pela falta do que fazer). Quando voltei, mostrei para algumas pessoas que
trabalhavam comigo. E meu chefe me indicou uma editora, cliente da gráfica.
Posso dizer que tive sorte. Em 2007, “O Espúrio” meu primeiro livro, foi
publicado. Em 2009 publiquei o segundo, “O corifeu assassino”, pela mesma
editora. Em 2010 abandonei o emprego e me tornei consultor técnico, trabalhando
como profissional autônomo. E, finalmente, puder cursar a faculdade de Letras
que tanto queria. Em 2013, com um colega da turma de letras, abrimos a Editora
Reformatório, por onde publiquei meu terceiro livro (o primeiro de contos)
“Reminiscências”. Em 2014, “O Espúrio” foi traduzido e publicado na Alemanha, e
“O corifeu assassino” traduzido e publicado na Itália.
Diário - Fale um pouco a respeito sobre divulgações de obras, dificuldades, facilidades,
meios de se conseguir divulgar um livro e etc...
Marcelo - Acho que a internet mudou tudo nesse sentido. Hoje o
próprio autor pode fazer a divulgação e falar direto com os leitores pelas
redes sociais. Também há diversos blogs e sites que abrem esse espaço. Acho que
o maior problema é que, com a educação tão ruim, cada vez mais, diminui o
número de leitores. Também existe a difícil batalha da concorrência com os
“booms literários” que já chegam vendidos, com campanhas de divulgação
milionárias e o alto número de livros publicados, só no Brasil são 5.000 todos
os anos. Não temos leitores para tudo isso...
Diário - Qual foi o primeiro livro que leu?
Marcelo - Fora os gibis, o primeiro mesmo foram os livros da
coleção do “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Depois a coleção vaga-lume, li
todos.
Diário - Qual o escritor favorito?
Marcelo - Cyro dos Anjos.
Diário - O que acha das guerras no Oriente Médio, acredita haver uma solução de paz?
Marcelo - O Oriente Médio, desde a
antiguidade, sempre viveu em conflito. Depois das I e II Guerras Mundiais, a
coisa piorou ainda mais. Porque se antes, a maior parte das brigas era por
religião ou demarcações de terra, depois das guerras, as mudanças, trazidas de
fora para dentro pioraram ainda mais a situação, inclusive levando também,
armamentos de maior poder de destruição. Agora, além da religião e disputa de
fronteiras, ainda há rivalidades e interesses econômicos e políticos.
Sinceramente, não vejo muitas possibilidades de solução. A guerra já faz parte
da cultura deles. Mas, como não entendo do assunto, espero que eu esteja
enganado.
Diário - Com qual livro se presentearia hoje?
Marcelo - Com o box da coleção completa de Machado de Assis. Um
sonho. Mas é muito caro.
Diário - Vê alguma solução para os moradores de rua?
Marcelo - Infelizmente, não. Vejo possibilidade e programas que
podem tentar diminuir essa situação. Mas solucionar e zerar de vez, não.
Enquanto vivenciarmos esse capitalismo predatório, não vejo solução. Mas, assim
como no caso da guerra no Oriente Médio, espero, sinceramente, estar enganado
mais uma vez.
Diário - Acredita que há desemprego no país?
Marcelo - É visível. Nesse momento, passamos por mais uma crise, e
isso sempre gera maior número de desempregados. Algumas empresas passam
realmente por dificuldades. Outras se aproveitam. Sempre houve e sempre haverá
desemprego. Por vezes, em proporções maiores, em outras ocasiões, menores. O
período de transição tecnológica que atravessamos também contribui. Algumas
profissões acabaram. É o caso do montador de fotolito gráfico, por exemplo. Não
existe mais. Em compensação hoje existem vários profissionais ligados à área da
computação gráfica que antes não existia.
Diário - O que acha dos movimentos culturais, em principal os Saraus?
Marcelo - Gosto muito dos saraus. Eu mesmo apresentei um durante
cinco anos. O Sarau da Camarilha. Além da divulgação dos autores, algo que
gosto muito nos saraus é a possibilidade de conhecer os artistas, firmar novas
parcerias e amizades. Também me impressiona o fato de cada sarau ter sua cara
própria. Se você vai ao EITA Sarau, por exemplo, tem uma cara. O Sopa de
Letrinhas, outra. E ambos acontecem, atualmente, no mesmo lugar: no Julinho
Clube. Isso também é um fato bacana. Apesar das propostas serem as mesmas, o
público muda, os artistas mudam e você reconhece em cada um, uma
particularidade. Isso também me motivou a conhecer diferentes saraus por São
Paulo. Além de tudo isso, o sarau mantém aquele espirito e beleza da poesia
declamada que emociona.
Diário - Além da literatura, tem outro ofício? Qual a importância dele?
Marcelo - Sou técnico gráfico. E continuo exercendo a profissão. É
o que garante o sustento da minha família E vez ou outra, ainda financia
algumas loucuras literárias.
Diário - Com poucas linhas, nos apresente o Marcelo Nocelli.
Marcelo - Um cara emotivo. Que tenta ser melhor a cada dia. Um
apaixonado por livros. Não só no livro como “produto final”, mas por todo o
universo que envolve a criação de um livro. Desde a escrita, passando pela
produção, até a leitura.
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